Foto: Mateus Ferreira
A Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) manifestou-se, mais uma vez, sobre a redução das penas dos réus condenados pelo incêndio na boate Kiss. Nesta sexta-feira (5), um painel de protesto foi colocado nos tapumes da obra do memorial, na Rua dos Andradas.
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Diversas pessoas que compõem a associação estavam presentes no ato. No banner instalado pelos familiares, uma ilustração do cartunista carioca Carlos Latuff mostra um homem abaixado, escorado em uma lápide e com o martelo da justiça cravado nas costas. A imagem traz os dizeres: “Vítimas da boate kiss”. No mesmo espaço, uma crítica à recente decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS): “TJRS, o carrasco das vítimas da kiss”.
– Isso (o painel) mostra que mais uma vez nós fomos apunhalados. Não tem como a gente acreditar em um tribunal que viola o direito dos familiares e, ao mesmo tempo, alivia a pena dos réus. O tribunal deveria mudar de nome e ser o tribunal da vergonha – protestou o presidente da AVTSM, Flávio Silva, que perdeu a filha Andrielle Righi, 22 anos, no incêndio de 27 de janeiro de 2013.

Entre as pessoas presentes no ato do início da tarde, Maria Aparecida Neves, 66 anos, mãe de uma das vítimas, mostrava indignação com a redução das penas.
– O mínimo que a gente queria é que não diminuísse a pena, já que não dá pra aumentar. Vamos continuar lutando por justiça. Se dependesse de mim, pediria pena máxima – desabafou.
Autor da charge da AVTSM, Carlos Latuff, 56 anos, é referência na arte brasileira. Com mais de 30 anos de carreira, ele se define como um cartunista político que faz desenhos críticos à realidade do país e do mundo. Com seus trabalhos, busca atuar em defesa dos direitos humanos.
Defesa dos réus
Em 26 de agosto, o Tribunal de Justiça atendeu a recurso dos advogados dos quatro réus e decidiu pela redução das penas aplicadas após a condenação pelo júri popular em dezembro de 2021.
O réu Elissandro Spohr, o Kiko, que havia sido condenado a 22 anos e 6 meses de prisão, teve pena revisada para 12 anos. Ele era sócio da boate.
O também sócio da Kiss, Mauro Londero Hoffmann, teve a pena reduzida de 19 anos e 6 meses para 12 anos.
Os integrantes da banda Gurizada Fandagueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão, condenados a 18 anos cada, tiveram as penas revistas para 11 anos.
As defesas dos quatro réus ingressaram na Justiça com pedidos de progressão para o regime semiaberto e saídas temporárias. A previsão que todos deixem a cadeia já nas próximas semanas.
O que diz o Tribunal
Procurado pela reportagem, o Tribunal de Justiça do Estado informou que não irá se manifestar sobre a charge divulgada. Confira:
"O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul informa que não irá se manifestar sobre a charge divulgada. Ressalta que o Poder Judiciário atua com base na legalidade, imparcialidade e nos princípios constitucionais que regem o devido processo legal. E que as decisões judiciais são fundamentadas na legislação vigente, estando sujeitas a recursos, conforme previsto em lei. O TJRS se solidariza e reconhece profundamente a dor e o sofrimento que esse episódio causou, e reafirma o seu respeito às vítimas e seus familiares."